Há pouco mais de quinze dias, no programa "Roda Viva", da Rede Cultura, o colunista e escritor Diogo Mainardi falava da quantidade de processos que ele recebera por escrever sobre as pessoas envolvidas no escândalo do mensalão. Foi o próprio ar de tranquilidade de Mainardi que me fez optar por começar a colocar, aqui nesta página, documentos acumulados ao longo dos anos.
O colunista falava que era muito difícil escrever sobre um desses mensaleiros e depois ter que escrever sobre Tintoretto. Ou ler Proust. Eu ainda não superei essa fase. O livro que preparo sobre o trágico em que a hybris é coletiva está parado. Creio que ainda vai ser preciso abandonar as preocupações com as mazelas do ensino público para me dedicar unicamente à arte e à ciência.
Bastou uma série de textos com cópias de documentos e fotos para que as pessoas começassem a me ameaçar de processos ou de agressão física. Uma situação mainardiana.
Os fatos relatados nesta página estão registrados em atas nas escolas em que ocorreram. Lá, eles estão acompanhados de nomes. Aqui, evitei a insinuação de nomes. E até mesmo índices que podem levar à identificação, como traços físicos. O interessante é que, se esses fatos relatados sem indicação de nomes incomodam a essa ou àquela pessoa, é porque ocorreram. Ninguém poderia ler uma história sobre um aluno que empilhou carteiras para machucar uma professora e querer processar o autor do relato, se ele não reconhecesse, ali, um fato que já foi motivo para atas, discussões, ocorrências. Evidentemente, indicações de cargos se referem a pessoas reconhecíveis, mas o que se relata sobre elas está registrado em documentos nas próprias escolas. Eu venho pedindo esses documentos através da secretaria de educação desde fevereiro. São atas de acesso público. E o meio de me negarem esses documentos é alegando sigilo, mesmo quando a lei de acesso à informação deixa claro que não.
Estranho, não é mesmo, leitor? Se um texto não informa nenhum nome, e se o fato não é verdadeiro, por que aparece um pai irritado para combinar com um diretor de processar o autor do texto por falar de seu filho? Como ele tem medo de que prováveis leitores reconheçam a pessoa envolvida no fato narrado?
Emitir opiniões é direito garantido. Uma declaração contra o sistema que nomeia professores temporários é direito, mesmo que esses professores se ofendam. Uma declaração contra a atribuição de notas feita de forma a descondiderar os planejamentos dos professores é direito. Quem cria essas coisas sabe que está sujeito à opinião.
Por exemplo, há um texto sobre o fato de professores não rspeitarem o artigo 24 das LDBEN. Está ali uma cópia de livro de registros em que isso se comprova. Há um comentário sobre alunos depredarem o prédio da escola. Está lá uma foto da escola depredada.
O problema é que existem inúmeras formas de ações permanecerem impunes. Mas a opinião pública deve ter acesso a essas informações. Se o aluno que tentou ferir a professora saiu impune da situação, existe como puni-lo, usando os meios de comunicação. No Brasil, é uma das formas de se garantir que alguma coisa seja feita em termos de justiça. A imprensa sempre foi um quarto poder. Hoje a imprensa também pode ser um blog como o da jornalista cubana que a ditadura prendeu esta semana. Ou um livro relatando fatos.
A história deu razão a Diogo Mainardi, mesmo ele escrevendo no auge da popularidade do governo envolvido em escândalo.
Existe o fracasso da educação pública, e existem causas.
O fracasso da educação pública é algo assimilado pela opinião pública brasileira. É como falar sobre a corrupção na política. Admite-se, mas não se enxergam causas nem soluções. É mais um mal da sociedade brasileira que, grosso modo, nem adiantaria trazer para a discussão. Poderia ser mais um tema para humorísticos e discursos de palanque, mas o brasileiro não quer se envolver no problema. Rende reportagens na televisão, denúncias na imprensa, mas não é algo que tire o sono daquele que frequenta uma escola ou manda seu filho passar horas diárias em uma delas. Nada além de mais uma fraqueza do país.
Existe uma vasta bibliografia sobre o fracasso da escola pública. Mas que é feita para educadores preocupados com currículos e metodologias. Na verdade, é um diálogo que se efetiva apenas no meio acadêmico. E que acaba influenciando decisões políticas. Estatísticas, avaliações institucionais. No entanto, quem trabalha ou trabalhou na escola pública e, além disso, estudou nela, sabe que as causas de seu fracasso se evidenciam nas ações cotidianas ali praticadas. Há inúmeros culpados. Diretores, professores, alunos, pais, pedagogos, burocratas.
Existe uma máscara encobrindo as causas desse fracasso. E que encobre soluções que ultrapassem os âmbitos curricular e metodológico, com todos os recursos físicos que estes envolvem. A máscara cria falsos mitos para encobrir os verdadeiros culpados. Ela erige falsos mártires. Transforma em vítimas aqueles que são imediatamente culpados pelas ações que levam ao fracasso. E que insistem nessas ações.
Não há dúvida: as causas são muitas. Vão desde a aula mal dada à aula nunca dada. Entre uma e outra, a máscara é construída por todos que estão envolvidos no processo educacional. E atrás dela existe um mundo inacreditável, que a imprensa não denuncia, que o acadêmico não coloca em suas pesquisas, que a autoridade finge não perceber, e que existe porque inúmeras pessoas ganham com esse fracasso. E são ganhos de inúmeros tipos.
Por que não falar sobre isso? Mas falar do ponto de vista de alguém que presenciou cada uma das causas desse fracasso aqui apontadas. Desde a vida como aluno até o trabalho como professor e pesquisador. Alguém que estranhou a probição que recai sobre essa discussão. E que passou a ver a própria discussão oficial sobre o assunto como uma máscara. Dizer que a escola ganhou um computador ou que não o possui é só uma forma de não se dizer que o instrumento vai ser usado para burlar o processo pedagógico. Mas, quem o disser estará fora da dança de quadrilha que é o debate sobre educação, não formará um trenzinho nem girará no círculo daqueles que se envolvem no assunto.
É preciso ter a coragem de dizer: na educação pública acontece isso, acontece aquilo, e tudo isso gera o inevitável: o fracasso. Que nenhum dos programas oficiais voltados para a melhoria do ensino público vai conseguir vencer. Tal como a escola pública acontece hoje, ela só poderá acabar em falência completa.
Existe uma vasta bibliografia sobre o fracasso da escola pública. Mas que é feita para educadores preocupados com currículos e metodologias. Na verdade, é um diálogo que se efetiva apenas no meio acadêmico. E que acaba influenciando decisões políticas. Estatísticas, avaliações institucionais. No entanto, quem trabalha ou trabalhou na escola pública e, além disso, estudou nela, sabe que as causas de seu fracasso se evidenciam nas ações cotidianas ali praticadas. Há inúmeros culpados. Diretores, professores, alunos, pais, pedagogos, burocratas.
Existe uma máscara encobrindo as causas desse fracasso. E que encobre soluções que ultrapassem os âmbitos curricular e metodológico, com todos os recursos físicos que estes envolvem. A máscara cria falsos mitos para encobrir os verdadeiros culpados. Ela erige falsos mártires. Transforma em vítimas aqueles que são imediatamente culpados pelas ações que levam ao fracasso. E que insistem nessas ações.
Não há dúvida: as causas são muitas. Vão desde a aula mal dada à aula nunca dada. Entre uma e outra, a máscara é construída por todos que estão envolvidos no processo educacional. E atrás dela existe um mundo inacreditável, que a imprensa não denuncia, que o acadêmico não coloca em suas pesquisas, que a autoridade finge não perceber, e que existe porque inúmeras pessoas ganham com esse fracasso. E são ganhos de inúmeros tipos.
Por que não falar sobre isso? Mas falar do ponto de vista de alguém que presenciou cada uma das causas desse fracasso aqui apontadas. Desde a vida como aluno até o trabalho como professor e pesquisador. Alguém que estranhou a probição que recai sobre essa discussão. E que passou a ver a própria discussão oficial sobre o assunto como uma máscara. Dizer que a escola ganhou um computador ou que não o possui é só uma forma de não se dizer que o instrumento vai ser usado para burlar o processo pedagógico. Mas, quem o disser estará fora da dança de quadrilha que é o debate sobre educação, não formará um trenzinho nem girará no círculo daqueles que se envolvem no assunto.
É preciso ter a coragem de dizer: na educação pública acontece isso, acontece aquilo, e tudo isso gera o inevitável: o fracasso. Que nenhum dos programas oficiais voltados para a melhoria do ensino público vai conseguir vencer. Tal como a escola pública acontece hoje, ela só poderá acabar em falência completa.
sábado, 6 de outubro de 2012
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
Colégio Olavo Bilac: "Ora (direis) dar notas aos alunos por nada!"
Por que não é possível falar-se em uma escola resiliente que
tenha construído aquelas competências essenciais que a sociedade espera do
ensino básico?
A escola que conseguiu afastar alunos de periferia, pobres,
do universo das drogas, da prostituição, do trabalho infantil, entre outros
problemas, investiu em projetos, normalmente trabalhados fora do turno escolar.
E que resultam em competências voltadas unicamente para o próprio projeto, mas
nunca para a vida posterior à educação básica. O aluno sabe dançar o fandango,
mas escreve “fandango” com J. Há alguns projetos voltados para o esporte que se
preocupam com competências formadoras. Muitos até investem em uma formação
musical. Mas a imensa maioria é apenas confete que a escola usa,
principalmente, para inserir professores novos no comércio das aulas
temporárias. O projeto já é feito pensando-se na disponibilidade daquela
professora que está em décimo na ordem de escolha de aulas (às vezes com ela
própria sentada à mesa do diretor), mas que vai ser a única da disciplina a
saber do leilão de aulas. Como sempre, a escola vai colocar um edital na parede
informando aos interessados sobre as aulas disponíveis. É uma medida para que
os nove primeiros da lista não recorram. Na hora do leilão, apenas o décimo
colocado estará lá, e constará na ata que nenhum outro compareceu, mesmo o
leilão tendo sido divulgado em edital.
Quando o governo do Paraná criou o projeto Viva Escola, os
colégios se encheram desses projetos. Lembro um deles, feito no Colégio Padre
Gualter Farias Negrão, a que apenas quatro alunos compareciam até o meio do
ano; depois, apenas dois. Era um projeto voltado para o esporte coletivo,
sobretudo o futebol de salão. Foi um imenso sucesso!
Existem projetos de efetivo sucesso. Certa vez, em 2009, um
homem fardado entrou em uma sala de sexta série, de forma quase truculenta,
para surpreender um menino que participava de um projeto promovido pela
prefeitura. Perguntou sobre sua disciplina, seu rendimento. Fez o aluno agir,
por minutos, como um soldado, usando termos como “senhor”, e depois, já fora da
sala, me explicou que precisava parecer truculento e até se desculpou. O aluno
teve bom desempenho durante o ano, fez da sua presença no projeto um motivo de
orgulho. Mas tinha todo um histórico de reprovações e atos de indisciplina.
Aquela turma foi a melhor que conheci na cidade de Faxinal, pelos casos de
mudança de atitude.
Existem notórios exemplos negativos. Como as fanfarras que
significam que o aluno vai permanecer fora da sala de aula durante os ensaios,
e vai receber em nota essas ausências. Fora os pontos que a escola lhe dará
pelo desfile em setembro. Por exemplo, o que vivi no Colégio Olavo Bilac, de
Faxinal, em 2008. Os alunos pertenciam à fanfarra com a intenção declarada de
não assistir às aulas. Ganhavam 2,0 pontos por ensaiarem; mais 2,0 pontos pelo
desfile do dia sete. Esses 4,0 pontos eram uma estratégia para que alunos
atingissem notas muito altas no último trimestre. E, evidentemente, em novembro
a escola inventava uma semana cultural valendo mais 2,0 pontos em todas as matérias.
6,0 pontos, a média do bimestre. Essas estratégias são vistas como um lance de
criatividade pelo núcleo de educação. Evidentemente, a escola tinha um índice
alto de aprovação. Mas era considerada a mais precária da cidade em
aproveitamento.
Já que falamos sobre isto, estendamos este assunto.
Em 2010, acabei pegando umas aulas em tal colégio, para
completar minha carga horária, mesmo meu padrão daquela disciplina sendo em
outra cidade e sendo o mais antigo de lá. Na reunião pedagógica de início de
ano, falava-se acerca do número de alunos com notas muito baixas no ano anterior,
o que tinha motivado aborrecimentos. E também sobre os malabarismos que tinham
sido feitos para que não se reprovasse muita gente. A professora de artes
propôs uma fórmula, que era quase a inversão da que expus no parágrafo
anterior. Todos os alunos começariam o ano já com 4,0 pontos, o que garantiria
que eles terminassem o primeiro trimestre sem notas baixas. Claro, a fórmula
representaria uma ampulheta letiva, já que no terceiro trimestre esses pontos
poderiam ser obtidos de outras formas, também sem relação com as disciplinas. O
professor poderia passar os primeiros meses letivos discutindo tranquilamente
sobre quem venceria o Big Brother, sem que o desinteresse do aluno pudesse
tirar seu sono. Nessas horas, a gente precisa ser enfático (e antipático): se a
proposta fosse aprovada, eu não a aplicaria, e procuraria ajuda. Imagine quanta
ingenuidade minha! Ajuda!
Eu estava escaldado do que vivera no mesmo colégio em 2008. Fora
a mesma situação: pegar duas turmas de português porque minhas aulas de inglês,
do padrão, tinham sido dadas a uma professora de outra disciplina, na cidade
vizinha. Eu era único professor do município com padrão em inglês. Mas não o
fixava em nenhum colégio porque amava trabalhar em uma escola pequena, com
apenas quatro turmas. Por isso, os professores que fixaram seus padrões, mesmo
de outras disciplinas, pegavam minhas aulas de inglês para completar suas
aulas. O que me deixava fora de uma escola onde trabalhara por doze anos e que
considerava um segundo lar. Portanto, eu peguei português em Faxinal para
completar o meu padrão de inglês. O Colégio Olavo Bilac tinha uma péssima
reputação e eu nunca tinha estado nele. Região de periferia. Mas o governo
tinha construído um colégio novo, com quase toda a estrutura das escolas mais
recentes. Limpo, sem carteiras quebradas, sem palavrões nas paredes. E a
diretora promovera toda uma política de premiar as turmas que cuidassem melhor
das suas salas.
Em outras escolas, diziam que eu poderia ser morto pelos
alunos de lá. Havia uma sétima série considerada péssima. E eles faziam justiça
a essa reputação. Foi preciso começar das habilidades mais básicas, como os
sons das letras. Eles eram indisciplinados. Uma aluna foi expulsa duas semanas
depois, e era a que eu considerava a melhor. Ao longo do ano, apareceram
marginais, um rapaz vindo de Curitiba, que os professores me alertaram sobre o
fato de o pai ser procurado pela polícia. A faca que o aluno mostrava não me
dava medo dele. Ele se mudou. Então, há poucos dias de encerrar o trimestre, a
turma permanecia com notas irrisórias. Eles se recusaram a ler o conto que eu
levara. Como se recusaram a reescrever suas produções de texto. A mesma
história de sempre: nunca tinham lido textos fora do livro didático, ninguém
devolvera textos para eles refazerem. E esperavam um milagre, na forma de
presente. O velho truque da prova com decoreba. Mas o milagre veio na forma de
proposta séria. Em uma quarta aula, às vésperas de entregar as notas, a turma
percebeu que eu não iria transigir com a recusa em seguir as práticas da
disciplina. Eu lhes propus um plano para, ainda, fazerem o que estavam se
recusando. Cheguei a propor ir ao colégio no contraturno para atendê-los. E
eles quiseram. Fui à minha casa, às pressas, e trouxe uma sacola com tudo que
eles tinham abandonado. A turma se ergueu, mostrou que era possível obter nota
através de práticas da disciplina, sem desviar para milagres, apenas a
responsabilidade de seguir as instruções do professor e chegar a um resultado:
habilidade. Os problemas foram se minimizando. Passei a amá-la. No último dia
de aula, em dezembro, colhi as plantas que cresciam debaixo da janela daquela
turma e plantei em meu quintal.
Mas havia uma oitava série. Com fama de ótima, de
inteligente, disciplinada, a melhor do colégio. Havia cabeças poderosas.
Poucas. Mas existia o mesmo problema da turma ao lado, agravado por uma reputação
que não representava o seu nível. Nunca tinham lido obra literária. Nunca
tinham feito um texto para ser corrigido, refeito, lido pelos colegas. Nunca
tinham lido nem produzido textos orais. Ler e escrever era algo tão próximo
daqueles alunos como a corrida de fórmula um no Japão, domingo. E eles tinham
tantas habilidades de escrita e leitura quanto possuíam para pilotar um dos
carros que correrão no Japão. Não foi possível, ao longo do ano, fazer com que
lessem nenhum texto. Montei para eles um apanhado de contos de autores
modernos, para serem lidos semanalmente. Não leram simplesmente porque não
queriam. O pai de um desses alunos quis me processar por exigir leitura. Em
relação à escrita, quando comecei a trabalhar os primeiros textos, havia algum
desempenho. Queria formar habilidades de pontuação, ortografia, concordância básica,
e a própria noção de texto. Fizeram contos, biografias, relatórios. Os
melhores, com muito interesse. Mas chegou o momento em que isso não bastava:
uma oitava série precisa produzir textos de opinião, artigos. Diante da
primeira atividade, a reação de algumas alunas foi taxativa: “A gente aqui só
sabe falar de sexo, professor.” Não era brincadeira: a aluna trazia a expressão
“sou biscate” ao lado do nome em sua página na internet. Engravidou. Juntamente
com outras colegas. A turma inteira passou a boicotar as aulas de produção de
texto. Uma aluna deixou de assistir às aulas da disciplina para não ter que ler
e escrever. A partir de setembro, ela só teve faltas. Hoje, é aluna do curso de
magistério. Em relação aos demais, a sala ficava vazia em todas as
segundas-feiras, nas duas primeiras aulas, porque quis dedicá-las à produção
oral. Como sempre, eles achavam uma coisa de outro planeta ter que fazer uma
apresentação oral. E quando lhes mostrei o currículo oficial do estado, e
questionei o fato de a turma não ter nunca lido nem produzido textos, e chegado
à oitava série assim, o fato gerou um escândalo movido pela turma. Professores
nunca mais falaram comigo. Pais vieram à escola saber por que eu estava
querendo que seus filhos escrevessem. E eu trabalhei durante três meses com
apenas seis alunos na sala. Como sempre, não havia nenhuma autoridade no
colégio que fizesse os alunos seguirem a proposta curricular, com aquilo que,
em qualquer proposta, é o conteúdo de português. A diretora estava em licença
para concorrer à câmara de vereadores. Disseram a essa turma que a lua é
planeta, e eu teria forçosamente que concordar. Não concordei. O sucesso da
turma ao lado era uma prova de que os da oitava queriam apenas manipular os
professores. Os alunos partiram para o curso de magistério, em número muito
grande. Nunca tinham lido um livro inteiro, um conto inteiro, ou feito textos
orais individuais, como seminários. Fizeram alguns textos orais, quando eram
coletivos. Quando precisaram produzir individualmente, fizeram birra, e
boicotaram as aulas. Hoje, estão quase com diplomas de professores nas mãos.
Terão que falar, terão que ler. Será que o farão?
A salvação desses alunos era, via de regra, os pontos obtidos
em atividades fora das aulas: desfile, fanfarra, torneios, danças. E uma semana
cultural quase sem atrativos. As outras escolas mandaram seus alunos para ver o
trabalho dos alunos do Colégio Olavo Bilac. O resultado foi uma imensa briga,
na qual a polícia precisou intervir, e acabou com ônibus apedrejados e pessoas
agredidas. Mas a nota estava lá. Esses alunos dependiam dela para poderem
boicotar aulas de leitura e produção de texto.
Em 2010, já não havia a estrutura de escola nova. As portas
continham buracos, feitos pelos chutes dos alunos. E esses chutes eram dados
por alunos que entravam atrasados nas aulas. Ilustrei este texto com a foto de
uma dessas portas. As lousas continham partes arrancadas. Garantia de que o professor
não passaria muito conteúdo. Na quadra, as tabelas para jogo de basquete já
tinham sido quebradas, da mesma forma a cerca de tela que impedia a bola de
sair para o pátio. Pilares postos no chão, a chutes e pontapés. No terreno ao
lado da quadra, evidências do uso de maconha. Falavam que ali era um ponto de
uso, à noite. Mas existe uma casa no pátio, onde mora um guarda. Segurança.
E a escola precisava urgente desses 4,0 pontos para todos os
alunos. As aulas deveriam acabar perto de meio-dia. Mas, quase onze-e-meia, os
alunos se recusavam a permanecer nas salas, porque queriam pegar a circular
desse horário, mesmo ela passando a cada dez minutos. Quando proibi essa
prática na minha aula, um aluno saiu e riscou meu carro. No mais, era a mais
absoluta recusa em fazer as atividades. Qualquer uma, até mesmo copiar da
lousa. Só o faziam, se o professor desse meio ponto para cada tópico copiado.
Não aceitei. A imensa maioria permaneceu sem sequer retirar cadernos das bolsas, falando palavrões. Não havia conteúdo que eles conhecessem, nem que quisessem conhecer. Nem vídeo, nem teatro. Queriam ganhar nota. Queriam sair antes da hora. Aliás, a pior aluna de uma turma tinha como nome o verbo querer. Os pais vinham exigir que eu
desse nota pela cópia da matéria da lousa. Cheguei a levar os cadernos ao
núcleo de educação, pedindo que alguém esclarecesse os alunos daquele colégio
sobre currículo, conteúdo, disciplina, horário. Não aconteceu, e eu consegui
mudar para outro colégio. Uma quinta série em Cruzmaltina, que conseguiu redigir textos médios em inglês com poucos meses de aula. Gente simples, da zona rural. Iluminados por uma boa educação familiar.
Os alunos daquela sétima antiga eu retomei, agora como
ensino médio. Outra vez, no dia em que precisavam ler uma obra literária, a
sala estava vazia. Foi preciso pedir intervenção do núcleo para explicar a eles
que leitura era parte do ensino de português. Alguns chegaram a bons
resultados. Entrariam facilmente em uma faculdade, passariam em concurso.
Quiseram ser alunos e não precisar de pontos artificiais. Hoje, integram um
projeto de sucesso do colégio, mesmo não precisando dele.
Os demais, esses patinam nas propostas antipedagógicas para
obtenção de notas. Tais propostas são para eles um meio de sobrevivência no
espaço escolar. Mesmo que isso represente depois a morte na sociedade, que quer
competências relacionadas ao ensino básico, e não a projetos feitos com
intenção duvidosa. Muito menos a inabilidade do aluno que conseguiu que a
professora trabalhasse tal como eles planejam durante suas conversas na
lanchonete. Ou sabem que, se todos cruzarem os braços, a escola vai lhes
presentear com pontos, muitos, quantos forem precisos.
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Matar aula, matar aluno: não é problema nosso!
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Recebi a mensagem acima de uma antiga aluna. Ela apenas
concorda com os fatos que enumero em meus textos. Pouco antes de ela me mandar
a mensagem, de forma pessoal, um outro antigo aluno relatou em rede social a
seguinte situação:
1.
João
zinho
Uffa...
Aula vaga hoje, voltar pra casa mais cedo.
Aula vaga hoje, voltar pra casa mais cedo.
Parte superior do formulário
Parte inferior do formulário
Poderia parecer estranho: a postagem foi feita em uma
segunda-feira, durante uma noite em que não chovia, não havia jogo na televisão,
nem comício na cidade, não havia torneio no ginásio de esportes, nem feira na
rua, nenhum velório de parente de aluno. Nada daqueles muitos eventos que
motivam a dispensa de alunos, principalmente no colégio em que esse aluno estuda (rsrsrsrsrsrs...). Falta de
professor, talvez. Mas sempre foi assim. Hoje deve até ter melhorado, pois o
aluno manifestou algum estranhamento. Lembro quando trabalhei lá à noite e
colegas professores brincavam, quando entravam na sala destinada a eles antes
do início das aulas, esfregando as mãos com ironia: “O que vai ter hoje para a
gente ir embora?” Bastava a vontade da pessoa que sentava na cadeira da
direção.
A aluna da mensagem demonstra surpresa por ver alunos se
drogando durante as aulas de educação física. Não deveria. Essa disciplina
permite que o professor fumante não se importe com leis estaduais ou federais,
afinal, ele se vê em espaço aberto, e coloca o aluno na mesma condição. Do
tabaco que os alunos usavam no Colégio Santa Felicidade à maconha que o inspetor
de outro colégio do mesmo bairro me disse que os alunos acendiam com o isqueiro
que ele emprestava, há uma distância pequena. Mas passa pela cegueira dos
funcionários do núcleo e de seus setores. Passa pelo “deixa pra lá, é problema
social” das escolas.
Em Cruzmaltina, cidadezinha com seu único colégio, durante
anos houve um fumódromo que era usado por alunos (principalmente garotas) de
doze ou treze anos, atrás da sala da sétima série do período noturno. Mesmo que
as pessoas se deslocassem da ouvidoria do núcleo para lá e pudessem encher
sacolas com as provas de que essa ação ocorria, elas sempre sairiam de lá
dizendo que era só boato. Era o aluno com sérios problemas respiratórios que
tinha que permanecer no pátio até a fumaça se dispersar dentro da sala.
A aluna cita a presença de câmeras e inspetores. De fato,
não adianta colocar funcionários para vigiar. O resultado pode ser a atitude do
inspetor citado mais acima. Que eu, numa noite em que fui entregar um documento
na escola, encontrei sentado ao portão, com uma garrafa de cerveja ao lado,
embriagado; mas era a única pessoa na escola para me atender, mesmo sendo oito
da noite. E a garota cita fatos ocorridos durante o dia, horário em que
supostamente estudam os mais novos, dependentes ainda dos pais.
A presença de drogas no espaço escolar não deve estar
sujeita apenas à cegueira das pessoas pagas para monitorá-lo. A aluna, por
exemplo, estudava em um colégio do setor Bairro Novo, em Curitiba. Região em
que trabalhei e onde ouvi falar de crimes no pátio. Fui vítima de ameaças por
rapazotes com histórico de indisciplina; fui vítima de assédio moral por
garotas com uma séria predisposição à dissipação moral, já que, nas palavras da
diretora, a maioria ia à escola apenas porque os pais não queriam tais filhos
em casa.
A mesma aluna postou na internet há poucas horas o seguinte
comentário:
Galera to
tremendo aki faz um 20 minuto q mataram um cara aki na frente!!! tem um monte
de gente e um monte de policia a frente da minha casa ta isolada e uma boa parte
da rua, pelo que conheço ainda vai demora umas 2 horas ai na porque ate o ML
chegar vixi vixi
E, mais tarde:
Vi cenas horrivel hoje aki debaixo dos meus olhos, coisas
que mexeram comigo e me deu medo...
E a tristeza de uma familia que perde alguem especial independente dos erros desse jovem quem esta sofrendo e a familia os gritos da irmã dele ainda estão gravados e ela ainda grita...
Isso me deu muita tristeza e não sei se consiguirei dormir mais agora vou deitar e rezar por mim pela minha familia e por essa familia que esta sofrendo tanto...
Boa noite face.... E que amanha seja um dia melhor!!! fui-me para cama grudar na minha mamis linda
E a tristeza de uma familia que perde alguem especial independente dos erros desse jovem quem esta sofrendo e a familia os gritos da irmã dele ainda estão gravados e ela ainda grita...
Isso me deu muita tristeza e não sei se consiguirei dormir mais agora vou deitar e rezar por mim pela minha familia e por essa familia que esta sofrendo tanto...
Boa noite face.... E que amanha seja um dia melhor!!! fui-me para cama grudar na minha mamis linda
Vejo nesse comentário a resultante do que ela me escreveu,
de forma particular. A escola forma pessoas com essas disposições. Se elas não
as possuem, é um risco muito sério o de desenvolvê-las, como acontece com
alunos do Colégio Nossa Senhora Aparecida, no setor Bairro Novo. Quando eles
revelam a vergonha de escreverem os nomes dos pais, em biografias e entrevistas,
percebe-se que a escola tem um papel muito definidor em suas formações. O que
ela lhes mostrar como aceitável em uma instituição que Althusser considera
inventada apenas para o controle do estado sobre as pessoas, passa a ser
normal, assimilável.
A garota saiu de Cruzmaltina já ao final do ensino médio. A
sua ingenuidade em se chocar com os churrascos que os alunos faziam enquanto
matavam aulas ou elas não eram dadas, lá no interior, parece uma situação de
imensa docilidade diante de seu horror com o uso de drogas na escola
curitibana. E, agora, com o assassinato diante da sua porta. Ela relata que o
assassinado era jovem e que deve ter cometido erros. O que seria? Morava com a
família, talvez voltasse do colégio.
Existe uma cadeia que liga essas ações. Aquele aluno de
período noturno, que se forma e não sabe redigir uma carta formal, vai para a
cidade grande e vira a mão de obra barata que mora em regiões como a do Bairro
Novo. Há ainda os não-formados, e pessoas que vão à escola apenas para comer. Ou
porque a escola é o local onde a rapaziada vai poder usar seus bagulhos sem o
risco de um policial que a vigie. Vigie e puna, tal como em Foucault. Esse
policial, como os super-homens da Patrulha Escolar, vai garantir o sossego
desse aluno. Colocadas diante do vício, a situação dessas pessoas muda. Alunos
que no interior matavam aula para jogar sinuca; na cidade, eles conhecem o
coleguinha que aos doze anos já ameaçava os professores, e que agora é um cara
descolado. Aqueles deixam de ser cordeiros e viram super-homens desligados de
toda preocupação moral. Podem matar na saída da aula. Matar a aula é para os
fracos, como agora pensam. Podem matar para tomar a droga que o coleguinha
mostrou que estava na bolsa, ainda durante a aula. Podem agir em um momento de
grande excitação. Mas podem também querer apenas não precisar da escola para
comer. Como me diziam a diretora e o chefe de setor lá no Bairro Novo, “a
escola não tem nada a ver com esses problemas da sociedade.”
A garota fala de câmeras. Tão inúteis, como foram tantas das
aquisições tecnológicas que as escolas receberam. Fala dos inspetores, tão
eficientes nas suas funções como são as responsáveis pela adequação das
práticas docentes às propostas curriculares oficiais. Se hoje essa garota
denunciasse a uma ouvidoria o consumo de drogas na aula de educação física, e a
escola dispusesse já dessas aulas gravadas, o argumento das pessoas das áreas
jurídicas seria que as imagens fossem apenas montagens mal intencionadas. Ou diriam
que a verdade do que estivesse nessas imagens é um veredicto a cargo delas, e
não dos cinco sentidos.
Será que, como espera a garota, amanhã pode ser um dia
melhor?
A indústria do professor temporário: ele passa décadas encarregado de manter o ensino improdutivo. É sua razão de viver
A cópia abaixo reproduz umas páginas do livro de chamada de
uma professora que está há mais de dez anos trabalhando na mesma escola e nas
mesmas séries como PSS, ou seja, com contrato temporário.
Temporário. Breve. Pobres professores que não conseguem
responder às questões da sua disciplina que caem em concurso público. Eles não
podem sequer assumir dívidas, comprar aqueles carros novos que desfilam pelos estacionamentos
das escolas, porque podem perder suas aulas a qualquer momento, seus filhos
sugarão tetas murchas. Bem mais murchas que a que esses professores sugam do
estado.
Os meus professores com contrato temporário lá na década de
80 trabalham comigo, trinta anos depois, com contrato temporário. Os seus alunos
fazem os mesmos exercícios e os professores trazem para a sala os mesmos textos
daquela época. São os seus únicos conhecidos. Já eram há trinta anos. Há o
truque que eu vi há dois anos na lousa em uma sala de sexta série. “Escreva se
as frases são conotativas ou denotativas.” Para ser boazinha, a professora colocou
um C ou um D sob cada frase; seria uma forma de se dar uma pista e garantir
que, no final do trimestre, ela pudesse ser considerada um modelo de
eficiência.
A professora do livro de chamada copiado abaixo é um modelo
de eficiência assim. Fábula, fábula, fábula, seja para a quinta série, seja
para a oitava. Então ela pergunta o que representam a tartaruga e a lebre. O que
é fábula. E tudo acaba bem quanto termina bem, como na comédia de Shakespeare. São
carreiras inteiras como professores temporários. Antigamente, uns aninhos de
atividade e o professor era efetivado. Virava “fundão” e impedia que todos os
formados em uma época mais esclarecida conseguissem aulas. Evidentemente, havia
uma indústria de proteções a colegas e parentes. E, como estamos em um país
suspeito, é possível que houvesse trocas em dinheiro.
Na primeira vez em que assumi aulas de substituição, e foi a
única, pois eu já era aprovado em concurso antes de trabalhar, a pessoa que
distribuiu as aulas favoreceu uma pessoa que ainda hoje é professora
temporária, quase vinte anos depois. Ela fez com que eu pegasse aulas de
substituição, por um mês, quando havia aulas definitivas para serem distribuídas
dali a uma semana. Existia um concurso anterior para quem quisesse pegar aulas
como substituto, e eu fora o primeiro colocado, ficando na frente de quem
trabalhava havia séculos. Muitos nem eram formados nas disciplinas em que
atuavam. A atitude de quem distribuía aulas, pensando em beneficiar a colega,
foi mentir a respeito das regras. Eu peguei aulas como substituto e, nessa
condição, não poderia pegar aulas em definitivo. Quando aconteceu o leilão de
aulas definitivas, uma semana depois, eu era, de fato, o primeiro da lista. Mas
não pude pegar aulas porque elas foram dadas a uma colega da documentadora.
Veja-se a cópia:
A professora que fez o documento copiado está numa condição
assim. Seu livro de chamada é uma amostra exata daquilo tudo que o ensino de
língua portuguesa condena, desde a graduação, até os níveis mais elevados.
Basta entrar em uma papelaria e pegar um livro didático, folhear, e o que se verá
é o extremo oposto da ação dessa professora. Ou entrar em uma livraria e ler a
produção científica a respeito do ensino de línguas, muito além do interesse
comercial e parcial dos materiais didáticos. O que está lá também está nos currículos
oficiais do país e do estado, feitos por pessoas que não reprovariam em um
concurso docente, tal como eles são feitos. O que se tem procurado há décadas é
levar a ciência para dentro da sala de aula, e subjugar os chavões criados pelo
professor sem conhecimentos. Além do mais, o seu sistema de avalaçao fere o disposto no artigo 24 das Leis e Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que estabelece a maioria das notas para atividades que não sejam provas e testes. (Há cerca de uma mês, a chefe da ouvidoria do núcleo de Curitiba debochou das LDBEN, dizendo que era ela quem definia o que era legal.) Mas, quando se pega um caderno de aluno desses
professores, o susto é muito grande. Veja-se um resultado médio (a turma é
quase toda assim; há semianalfabetos; e uma única aluna com habilidades):
O trecho é de uma aluna de cerca de quinze anos, estudante
de uma sétima série do Colégio Estadual Nossa Senhora Aparecida, de Curitiba.
Percebe-se que não há aquilo que o currículo nacional chama de habilidades. A
aluna pode ter passado um bimestre estudando verbo, mas não sabe reconhecer o verbo
na oração que ela produz, nem sabe que ele deve concordar com o sujeito. Não
sabe que existe adequação da linguagem ao gênero, que é a base de toda
possibilidade de prática discursiva na disciplina de língua portuguesa. na lista de conteúdos da professora, estão lá os eternos assuntos (ortografia, crase) de gramática fora do uso, e o velho equívoco de achar que dissertação é gênero discursivo, mesmo os funcionários que dão capacitação já estando roucos de tanto dizerem aos professores para não cometerem esse absurdo. É achismo. A professra ensina o que ensinaram a ela. E a aluna demonstra não ter entendido sequer o que a professora queria quando falava em dissertação. E não dominar nada dos conteúdos dados, mesmo a nota dela sendo ótima, das melhores da turma.
Compare-se a proposta curricular do referido colégio, uma
série qualquer, aqui a sétima, e o conteúdo para a mesma série tal como está estabelecido na
proposta curricular oficial paranaense. Primeiro, a proposta do colégio:
Depois, a das diretrizes curriculares paranaenses:
GÊNEROS DISCURSIVOS
Para o trabalho das práticas de leitura, escrita,
oralidade e análise linguística serão adotados
como conteúdos básicos os gêneros discursivos
conforme suas esferas sociais de circulação.
Caberá ao professor fazer a seleção de gêneros,
nas diferentes esferas, de acordo com o Projeto
Político Pedagógico, com a Proposta Pedagógica
Curricular, com o Plano Trabalho Docente, ou
seja, em conformidade com as características da
escola e com o nível de complexidade adequado
a cada uma das séries.
*Vide relação dos gêneros ao final deste
documento
LEITURA
Conteúdo temático;
• Interlocutor;
• Intencionalidade do
texto;
• Aceitabilidade do texto;
• Informatividade;
• Situacionalidade;
• Intertextualidade;
• Vozes sociais presentes
no texto;
• Elementos composicionais
do gênero;
• Relação de causa e
consequência entre as
partes e elementos do texto;
• Marcas linguísticas:
coesão, coerência, função
das classes gramaticais no texto, pontuação,
recursos gráficos como aspas, travessão, negrito;
• Semântica:
- operadores argumentativos;
- ambiguidade;
- sentido conotativo e denotativo das palavras
no texto;
- expressões que denotam ironia e humor no
texto.
ESCRITA
• Conteúdo temático;
• Interlocutor;
• Intencionalidade do
texto;
• Informatividade;
• Situacionalidade;
• Intertextualidade;
• Vozes sociais presentes
no texto;
• Elementos composicionais
do gênero;
• Relação de causa e
consequência entre as
partes e elementos do texto;
• Marcas linguísticas:
coesão, coerência, função
das classes gramaticais no texto, pontuação,
recursos gráficos como aspas, travessão, negrito;
• Concordância verbal e
nominal;
• Papel sintático e
estilístico dos pronomes na
organização, retomadas e
sequenciação do texto;
• Semântica:
- operadores argumentativos;
- ambiguidade;
- significado das palavras;
- sentido conotativo e
denotativo;
- expressões que denotam
ironia e humor no texto.
ORALIDADE
• Conteúdo temático;
• Finalidade;
• Aceitabilidade do texto;
• Informatividade;
• Papel do locutor e
interlocutor;
• Elementos
extralinguísticos:
entonação, expressões facial,
corporal e gestual, pausas ...;
• Adequação do discurso ao
gênero;
• Turnos de fala;
• Variações linguísticas
(lexicais, semânticas,
prosódicas, entre outras);
• Marcas linguísticas:
coesão,
coerência, gírias, repetição;
• Elementos semânticos;
• Adequação da fala ao
contexto (uso de conectivos,
gírias, repetições, etc);
• Diferenças e semelhanças
entre o discurso oral e o escrito.
Não existe uma filiação. Nada. A proposta oficial se ampara em três práticas discursivas, e tudo que se estuda está embutido nelas: leitura, escrita e oralidade. A proposta do colégio é
apenas a cópia de itens de algum livro didático, que um ou dois professores
devem ter achado parecido com o livro que elas usavam quando eram alunos. São conteúdos de gramática pura, tal como eram estudados há trinta anos. Até mesmo a terminologia não é a mesma.
Professores espertos. Tal como não precisam se preparar para concursos para poderem ser funcionários públicos, não precisam conhecer as suas disciplinas para atuarem em sala de aula, nem mesmo a direção que as propostas curriculares dão à metodologia e à avaliação. Esse professor nunca percebeu e vai se aposentar sem saber que metodologia e avaliação não são etapas separadas, mas formam um processo de construção de habilidades. Os alunos vítimas desse sistema não possuem habilidades linguísticas, mas são aprovados sem que a escola os transforme. Nas outras disciplinas, não é diferente. Naquelas puramente teóricas, é ainda pior.
Professores espertos. Tal como não precisam se preparar para concursos para poderem ser funcionários públicos, não precisam conhecer as suas disciplinas para atuarem em sala de aula, nem mesmo a direção que as propostas curriculares dão à metodologia e à avaliação. Esse professor nunca percebeu e vai se aposentar sem saber que metodologia e avaliação não são etapas separadas, mas formam um processo de construção de habilidades. Os alunos vítimas desse sistema não possuem habilidades linguísticas, mas são aprovados sem que a escola os transforme. Nas outras disciplinas, não é diferente. Naquelas puramente teóricas, é ainda pior.
Esses professores são o sonho dos pais que não querem a
construção de competências e habilidades, mas apenas a aprovação. Aquela em que
o aluno não lembra, na série seguinte, o que se viu na anterior. Não lembra,
depois de fazer a sua prova, o que caiu nela. Esses professores seriam mantidos
a qualquer preço na escola. Manter as práticas escolares como eram há trinta anos é uma religião para esses professores. Ele faz voto de ignorar, banir da sua vida tudo que é científico e diga respeito a uma terminologia fora dos chavões. Não deixar que os currículos oficiais sejam aceitos e praticados por pais e alunos é sua razão de viver. O sistema quer esse professor lá, precisa dele, coloca-o em comissões, cargos, é na casa dele que o diretor toma suas cervejas.
Desde os anos noventa se fala em eliminar os professores
temporários, e os governos deram capacitações, fizeram concursos, mas eles
continuam ali, cada vez mais influentes. Debocham das capacitações, colocam apelidos nos documentos oficiais. "Semana pegajosa..." Não fazem capacitações docentes, nem
se preocupam com especializações, pois não possuem plano de carreira. Terminam
suas carreiras como as começaram, assim como o seu aluno não vai adquirir
habilidades definitivas, aquilo que nas propostas oficiais são os objetivos
principais de o aluno ir à escola durante cerca de uma década.
E quem acredita que não há uma indústria mantendo essa
condição, que envolva dinheiro, proteções políticas, compadrismo, instâncias
colegiadas, sindicatos, é um ingênuo. Já vi o caso de uma autoridade política retirar
a inscrição em concurso para cargo temporário de uma professora, para que sua
filha ocupasse a primeira colocação. Quem brigaria com vereador? Quem crê que
tudo acontece nos cargos temporários como se Aquiles não matasse Heitor é
porque tem se beneficiado com isso. O aluno irresponsável, o pai que não quer
aborrecimento, o professor que escolheu fazer uma licenciatura para nem sequer
pensar em um bacharelado. Certamente foram educados por uma professora como a
do livro de chamada acima.
domingo, 30 de setembro de 2012
Conselhos de classe com atas irreais, como os dessa escola de Londrina
Postado por uma professora no Facebook:
Em Londrina tem escola pedindo para os professores fazerem novas avaliações de recuperação do 1º e 2º bimestre, "para não precisar fazer reclassificação no ano que vem"... A intenção é facilitar para aprovar os alunos e fazer subir o índice do IDEB (mascarando?). O duro é saber que nenhum professor tem coragem de expor a indignação e ir contra esse tipo de deseducação dos nossos alunos, lastimável!
Em Londrina tem escola pedindo para os professores fazerem novas avaliações de recuperação do 1º e 2º bimestre, "para não precisar fazer reclassificação no ano que vem"... A intenção é facilitar para aprovar os alunos e fazer subir o índice do IDEB (mascarando?). O duro é saber que nenhum professor tem coragem de expor a indignação e ir contra esse tipo de deseducação dos nossos alunos, lastimável!
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