Quando qualquer pessoa instruída sai do século XXI e se
depara com a educação pública de Curitiba, o que logo aparece, de um modo
gritante e autoritário, é a figura do perfeito-idiota. Claro, ele dá nome a um
dos mais interessantes livros sobre o modo como o imbecil latino-americano
pensa. A obra O perfeito-idiota
latino-americano resume a figura daquele cara que conseguiu um cargo no
serviço público graças a clientelismo político, ou a favores de outro jaez, e
que confunde a autoridade dada pela figura do protetor com autoridade legal,
científica ou moral, as quais normalmente esse idiota, mesmo perfeito, não tem.
E eles se reproduzem com facilidade. Ocupam desde os cargos
de confiança aos de assistente administrativo. Tantos anos vendo as pessoas que
leiloam cargos pedindo a conhecidos que consigam certificados falsos para
poderem tomar a vez de quem de direito ocupa as primeiras posições nos
concursos, que é indigesto ver como esse perfeito-imbecil adora exercer a
autoridade. Como mérito! Ele não conhece as leis, os regimentos que regulam a
sua profissão; abomina o conhecimento científico, a produção bibliográfica (até
porque achava uma chateação os professores pedirem essas coisas na faculdade e,
se conseguiu se formar sem ler um capítulo de livro, não será depois de
empregado que irá fazê-lo); confunde o conceito filosófico de ética, que busca
ser universal, com as praxes do serviço público.
O perfeito-idiota do ensino curitibano se senta tanto nas
cadeiras almofadadas das repartições quanto nos bancos da época do governo Cannet
que preenchem as salas de aula. Na sala de professores, ele quer apenas tortas
e biscoitos, mas que ninguém fale de questões prementes da educação. Sentados
numa sala de direção, tornam-se tão bons em contas que reformam suas casas,
embora ganhem o mesmo que os demais professores. O aluno perfeito-idiota acredita que a verdade está nas crenças de seu grupo; que tudo que seus pais praticam é ético, como pagar por trabalhos escolares ou conseguir que o filho-aluno termine a série sem ler uma das obras pedidas; acredita nos defeitos históricos do sistema escolar como sendo da sua essência, como a decoreba e a cola; acredita que a nota vale mais que tudo que se fez no bimestre escolar. O pai perfeito-idiota vai dedicar sua vida a legimitar o que o filho pensa e pratica; para ele a escola é como limpar a dispensa aos sábados ou podar a grama. Diretores, pedagogos e professores perfeitos-idiotas vão se comportar como os gnomos na floresta, deixando que aluno e pai façam como quiserem, desde que os defeitos históricos do sistema escolar não lhes inviabilizem um salário mensal.
Esses caras merecem inúmeras postagens. Tantas que fariam os
autores do livro que lhes dá nome rever seus conceitos. O perfeito-idiota não
se refere a quem acredita em um discurso de esquerda pretensamente ultrapassado,
mas àquela figura que, nos romances de Jorge Amado, guarda a porta para o
patrão dormir com a amante, depois atrela o cavalo para a patroa ir à igreja.
Tanto a amante quanto a igreja são peculiares a um sistema que garante o seu
salário ou sua nota. Para ele, basta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.