Vêm chegando os dias terríveis. Hoje já vi fotos em rede de
alunos passeando em hotéis-fazenda, aquilo que se torna uma rotina nos últimos
meses. Impede que se dê todo o conteúdo. Faz com que o aluno passe esses meses
em ensaios para apresentações que duram dois ou três minutos. Quando ele vai à
escola.
Faz dois anos que fui a dois conselhos de classe largamente
prejudicados pelo tema: Os professores vão ou não à
carreata do candidato a governador?
O primeiro tinha ocorrido na sexta, no Colégio Padre Gualter
Farias Negrão, em Cruzmaltina. A pedagoga apresentou um papel enviado pelo
núcleo de educação convidando os professores para a carreata do candidato da
situação, que seria lá em Apucarana. Lógico: viagem, combustível, ida,
volta. Tudo isso merecia que se
dispensassem as aulas. Mas os professores preferiram não ir, seria aborrecido
demais. E daria margem a polêmica, pois nem todos aceitariam.
No sábado cedo, a situação se repetiu. Agora em Faxinal, no
Colégio Olavo Bilac. Lá estava o convite. A carreata seria na terça, e o
professor que fosse não levaria falta. A discussão recai sobre a inutilidade de
se fazer algo que não dispense o aluno. Ter que ir a um evento não livraria o
professor das horas que ele passaria ocupado. Então, não era uma proposta
aceitável. A ideia de quem formulou a proposta era fazer mesmo quem fosse
contra aquele candidato acatar a ideia só para ganhar um dia de folga. Não ter
dado certo foi um imenso progresso. Mas, para quê? Aquele colégio tinha sediado
uns jogos durante setembro e nos dias de reposição os seis alunos presentes passaram
a manhã jogando Uno.
Eu tinha tentado informar algum candidato da oposição na
noite anterior daquele abuso de poder. Entrei nos sites, mas não havia espaço
para postar uma cópia daquele documento. Quando saí do conselho, fui a uma loja
procurar um produto. Minutos depois, entrou um candidato a deputado estadual
por um partido de oposição. Expliquei a ele o que tinha acontecido, e ele disse
que tomaria providências. Não deve ter tomado. Fora prefeito de uma cidade
importante e promovera uma revolução na educação, que virara modelo.
Enquanto isso acontecia em Faxinal, no colégio de
Cruzmaltina o diretor e alguns professores protegidos escolhiam uma comissão,
que deveria ser pleiteada entre o corpo docente. Semanas depois, os professores
ficam sabendo que tinham assinado uma ata falsa, sem saber do que se tratava,
na qual apareciam seus nomes como tendo escolhido para a comissão os nomes
preferidos do diretor. Não se dá muita importância ao caso.
No sábado seguinte, os professores precisam comparecer ao
colégio. Um grupo de pessoas do núcleo faz uma reunião. Colocam-se francamente
a favor da atitude do diretor, dizendo que esses ajustes são procedimentos
normais. Citam casos em outras escolas. E dizem que somente ali existe aquele
desconforto. A professora que o diretor escolhera para a comissão vai à frente
e faz um discurso falsamente moralista em favor desses ajustes, que
aconteceriam sem problema em todas as escolas, menos ali, e a tônica recai
sobre a figura da professora que fizera a reclamação, que ainda não havia
chegado. A professora chega, e acusa a chuva forte de ter impedido sua saída do
sítio. Pede a palavra, e esta lhe é negada. Tanto o núcleo quanto a direção
tentam impedir sua fala, mas ela se afirma e faz um discurso pela transparência
nas atitudes. Ela, que exercia o cargo de documentadora, será tirada da função.
O diretor muda de lado político e rompe com ela, que era líder do partido do
governo. Poucas semanas depois, a escola passa a flertar com a prefeitura,
emprestando móveis, mas principalmente combinando dias sem aulas, em que o
transporte escolar não funcionaria. Foram dias e dias com quatro alunos na escola,
jogando tênis de mesa. No domingo houve festa na paróquia, dois dias sem aula;
morreu um morador, dois dias; quinze de novembro, inventa-se um recesso; no dia
da consciência negra, dois dias... O vice-diretor chega ao portão e manda os
alunos que vieram irem embora, a pedagoga os chama de chatos, caxias.
Nenhum problema: como repor tantos dias sem aulas, se as
duas primeiras semanas de dezembro são dedicadas ao rodeio, e o prefeito não
cederia transporte para os alunos nem com decreto presidencial? Simplesmente,
acaba-se de uma vez com essa história de aula, aluno, transporte... Só não se
divulga o resultado final antes da data, que é crime, e o aluno pode recorrer.
Faz-se conselho final no sábado exatamente para que, quando o aluno olhar o
edital na segunda, já expirou o prazo para que ele possa recorrer.
Esses dias estão chegando. E 2012 é ano eleitoral, de novo.
(Antes que me esqueça: Há um mês, uma grande rede de
supermercados paranaense foi condenada por trabalho escravo e por infringir
leis trabalhistas. Na internet, abaixo da notícia, os comentários dos leitores
diziam que os empregados é que eram safados, ninguém os obrigava a trabalhar
lá; se lá não obedeciam leis, que buscassem outro emprego. Eu ouço a mesma
coisa há quase vinte anos. O ensino público não cumpre as leis, vá trabalhar em
outro lugar.)
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